Wednesday, November 29, 2006

STRANGE DAYS

Quando um dia me disseste
A TI, ACONTECE-TE TUDO
sorri e achei um exagero
Pensei que, simplesmente,
sei contar, as coisas mais comuns,
de maneira mais colorida.
Mas de facto, logo quando,
tento voltar à minha rotina,
entre filas apressadas e trânsito congestionado,
quando à falta de mãos livres
a tendência de segurar as coisas com os lábios
torna-se numa necessidade,
oiço alguém dizer AS MELHORAS, bem ao meu lado,
alguém que nem conhecia.
Ri-me e sinalizei com a cabeça o entendimento
Tirei o bilhete da boca e agradeci ao desconhecido.
Que apesar de desconhecido, continuou a desejar-me as melhoras.

Wednesday, November 22, 2006

E já está!

Tudo muito rápido.
A aventura maior foi mesmo levar a roupa para o cacifo, com as duas mãos cheias ...de muletas – não é fácil, mas sou resorcefull.
Chegada, registo, nem me sentei – entrada para os balneários
Chamada em fila, atribuição de cacifo e farda hospitalar – fica só com a cueca e o soutien – deve ser por ser quase Inverno, da última vez, só tinha direito a batas translúcidas.
Pelas raras vezes na vida, fui a última a me despachar da etapa da mudança de roupa.

Chego à porta da grande sala – faça favor de sentar.
Todos olham para mim, sem um sorriso ou uma palavra. Sinto-me familiarmente ridícula com aquela touca verde água que combina com bata de flanela, mal apertada nas costas, mas não com o chinelo descartável azul.
Estamos todos naquela linda figura. As enfermeiras também não escapam, com o conjunto em azul e com as socas de borracha.
Parece a preparação para um baile, naquela sala de espera asséptica.

Atravesso o espaço, elegantemente com as muletas, até à poltrona forrada com um lençol. Coube-me o lugar central, naquele convénio. Sinto os restantes 7 pares de olhos postos em mim. A enfermeira coloca-me exactamente igual aos demais, tapa-me as pernas com uma outra bata, igual à que visto – agora parecemos uma desmultiplicação de velhos assépticos, sentados à lareira, com a manta no colo.

Cateter no pulso, questionário, pode aguardar. Olho em volta e lembro-me de experiências nerológicas em símios, todos agrupados na mesma sala.

Ainda é cedo e anulo a minha presença, viajo para outro estado, para ser interrompida pelo Clark que hoje está, especialmente, conversador. Por mais despercebida e apagada que tento passar, mais esta experiência, apanho sempre com mau-feitios simpáticos e conversadores. Sou levada para a sala no meio de conversa casual.

Conversam comigo o tempo todo – agora vou besuntar-te o pé com betadine, vai ficar todo bronziadinho! Vais sentir uma picada, tas confortável?
Tento alienar-me das vibrações, das pressões, que sinto até ao âmago da anca. Sensações muito estranhas...há coisas que não se fizeram para se sentir por dentro.

Calham-me sempre os cirurgiões mais brincalhões que não me deixam de fora do evento. Elasticidade...Parece uma bailarina!! Percebi depois, quando vi a ligadura bem ao estilo da série Fame, o que ele queria dizer.

20 minutos, se tanto, fico de novo com o meu novo amigo que me calça e me aperta os atilhos da bata nas costas. Acompanha-me de novo, até ao sofá na sala conjunta, em conversa amena, como se passeássemos numa tarde de domingo, enquanto segura nas mãos, o meu soro.

Trazem-me um iogurt e bolachas, enquanto o Clark, visivelmente orgulhoso, com o seu pé de bailarina, troca impressões e datas de consulta comigo.
Mesmo tentando passar em branco, de todos os que lá vi, só eu estava com as atenções do enfermeiro, do cirurgião, do mestre cirurgião, que mais tarde ou mais cedo ou ao mesmo tempo, metiam conversa, o que me valeu a procura de esclarecimento de dúvidas por parte dos outros pacientes mais nervosos.

Correram comigo, 1 hora e meia depois de ter lá entrado. Mais pontos para tirar, um pé laranja para não molhar e segundo as palavras do Clark, se doer tem lá alguma coisa para as dores?...Ainda tenho os da outra operação, mas só me está a coçar os pontos. Ri-se - se der comichão mais “forte” já sabe...

E é assim, cá ando eu, com um parafuso, perdão, cavilha (como alguém descreveu) a menos. Restam-me os outros dois, a chapa, os pionéses e muitas situações hilariantes em aeroportos .

Sunday, November 19, 2006

Vamos cá esclarecer :

Ainda aqui ando.
Ainda não voltei de novo ao bloco...mas está quase.
As coisas não estão, nem por isso, a correr mal...estão a correr devagar, com surpresas a cada esquina, com actualizações a cada pequeno passo dado dentro da neblina do desconhecido.

Não fiquei, nem fico preocupada com esta ou outras operações q possam surgir - depois de toda a praxe que é um internamento, já estou mais que vacinada.
Até vai ser engraçado voltar a ver o bloco - tem um design muito hi-tech e a imagem intervenção de reconhecimento dos cientistas em torno do extra-terrestre que, alegadamente, caiu em Roswell lá por 49 ( ou do boneco e o balão metereológico) persegue-me até hoje.
Como ando por aí a dizer, só não me está mesmo a apetecer é epidurais, mas é mesmo porque o efeito secundário dura e dura por alguns dias.
Desde a 1ª e (espero) a última ressaca que ainda durou uns 4 a 5 dias, entrei para o EAMNPF (Epidurais Anónimos - Mais Não Por Favor!)
Prefiro mesmo assistir à sessão de marcenaria Drill&Extract.

Então está marcado : 8.30h na 4ª lá estamos para mais uma viagem ao mundo dos tectos de bloco operatório.
O riscado nas guarnições ...ui, espero não ficar de novo com o saco de soro entalado na porta, enquanto o suporte verga verga, até levar com o saco em cima.

Depois de uma "boa nova" , olhe tentámos contactá-la mas o nº não dava, por vamos tirar um parafuso...estaca de caminhos de ferro deve ser o melhor termo. Lá tivemos que andar a perseguir os serviços ambulatórios à falta de novo aviso.

Pois, o meu super-homem-clark-quente arranjou maneira de me pedir o telemóvel mas esqueceu-se de o passar aos serviços (só n acerto no euro-mlihões que, desta vez até fiz, sem grande resultado)

Desta vez, como tinha me sido dito , é para o operatório ambulante ou ambulatório operante
e só tenho direito a meia pensão ...sairei no final do dia ...acompanhada ( n sei bem o q isto quererá dizer)

Por um lado posso tomar o pequeno almoço, q indicia não haver epidurais reservadas para o dia.
Por outro, se tenho de entrar às 8.30h, podem muito bem deixar-me sem comer até às 16.30h e às 18h já estar pronta p sair com uma ressaca a mais e um parafuso a menos.

Vou mais pela 1ª

mas what ever - que escolha tenho eu

Estive na fonte da telha , finalmente, ao fim de quase 3 meses.
Andei entretida, a marcar na areia, as rotundas que se tornaram a sombra das minhas passadas.

Ao que parece, sou tão importante que e a minha vida deve ter saido na dica do jornal do Lidl.
Não me habituo a esta fama, a este estatuto de diva.

Sou cumprimentada por desconhecidos que me desejam as melhoras e perguntam se estou melhor. São raros os dias que saio à rua sem isso acontecer e os rumores espalham-se.
Já me querem fazer estar a operar mais cedo que o previsto, outros acham q as coisas não estão a correr bem, para ter que ser operada de novo, depois da explicação, acham que foi engano ou negligência ou simples capricho.

enfim
o que o povo gosta é de ter que falar e de preferência que possa passar num telejornal sensaciolalista.

O que vale é que já tenho os meus óculos de sol, de diva de anos 50...tentarei esconder as muletas atrás deles para passar despercebida, enquanto refilo por não me deixarem ficar com o telemóvel durante a curta estadia.

Até já

Copo meio cheio de esperanças vãs



Há dias bons, dias maus.
Dias em que o copo está meio cheio
Ou em que está meio vazio
Dias em que consegui, finalmente,
Sentir a areia e o cheiro salgado do vento.
Ou que estive ali tão perto,
Mas tão consciente das dificuldades.
Dias em que estive ao vivo e a cores
No ambiente a que estava habituada
Ou a sentir todas as dificuldades
Dos obstáculos que acarreta.
Quando os dias passam e me frustram
e já nem ligo às surpresas que se vão sucedendo
Mas que a hipótese de possíveis problemas
Noutros horizontes, que não os meus,
Socam, com força, os meus pensamentos

Monday, November 13, 2006

É uma meniiiiihina!

Boas notícias ! Parece que, vou mesmo manter uma rica perna, ao permanecer em minha posse, o titânio.
Tou mesmo a ver as aventuras de aeroporto que se seguem ao longo da vida...
Como já dizia por diversas vezes, cada vez que vou a uma consulta descubro uma coisa nova - não, não podem ser chatas estas coisas, sempre cheias novidades, surpresas e kinder estragados.
É claro que alguém se esqueceu de me avisar que, ao contrário da maioria das pessoas, eu não tenho um parafuso a menos, mas sim, um a mais. E como um Perónio não pode ficar pregado a uma Tíbia - tal como as rectas concorrentes, para sempre destinadas a correr lado a lado, sem nunca se cruzarem...zrrrrrrr!!!!

Hello again Hello Bright lights ! yes I still have the puncture wound. See you when I'll wake
(that will teach me not to make fun of being admited again)

Sunday, November 12, 2006

Maki


Aos poucos abandono o meu estado de retiro.
Tento, sem exagero, voltar à minha vida, testado os meus actuais limites, visitando a minha vida, sem, no entanto, a viver plenamente.
Final de mais uma semana.
Encontro para jantar.
Porquê pensar em pequeno?

Indo na loucura do momento, porque não Tókio?
Aguardando à porta de um demasiado frequentado sushi-bar...no Oriente os deficientes não têm prioridade.
Os pratos deslizam em frente aos olhos e porque são eles que começam por comer, as cores, as formas, a diversidade, seduzem e logo, na mesa escasseia o espaço e prolifera a animação.
Gueishas modernas não param nem abrandam o seu ritmo virtiginoso, com que atendem as mesas. Na nossa, a diversão passa por experimentar e construir arranha-céus de pratos coloridos.
Os pratos continuam a passar, delicados sedutores, na sua dança de movimento planar, preciosamente cronometrado, de modo a prender as atenções, aquando da sua passagem quase etérea, como uma criança numa loja de gomas.
O wasabi não me faz chorar, mas a combinação de um outro picante com chá verde, dá que ficar a pensar no caso.
No final, o palhaço não quis ficar na foto – deve estar com a mania que é estrela.
Mas também, não o deixaram participar na festa, mesmo ali ao lado.
A próxima?
Para onde?
Não sei, mas a companhia já é mais que o começo.

Thursday, November 09, 2006

Memórias em Branco

Meço o tempo pela marca do verniz, que teima em desaparecer, que se agarra relutante à superfície e que ainda cobre de branco, desde o dia em que me arrependi tê-lo feito.
O branco não combina comigo. Mas deixo-o ficar, constante lembrança do tempo que passou, de tudo o que passou.
Deixo-o e espero pelo tempo que ainda vai passar...a meio caminho de passar
...talvez, no dia em que finalmente desaparecer, naturalmente e por completo, o mesmo aconteça com as dificuldades que a ele, deixei permanecer relacionadas.
Porque o branco não combina comigo e o branco teima em passar.

Saturday, November 04, 2006

Sunday Mornings are a bitch

Abre os olhos e vê a luz que entra, já forte, pela janela. Lá fora, as vozes madrugadoras não olham a mais uns minutos de sono. Lança as pernas para fora da cama e sente o chão frio debaixo dos pés. Inspira fundo e devagar, levantando-se num só movimento. No caminho, pega a roupa amachucada, largada a um canto do quarto e leva consigo para a casa de banho. O espelho reflecte os traços cansados, realçados pelo lápis ainda esborratado. Abre a torneira, junta as mãos em concha e um arrepio percorre a espinha, enquanto mergulha a cara na água fria. Faz uma careta enquanto veste a roupa impregnada com o cheiro a tabaco e lança um último olhar para a cama, através do espelho. Dorme profundamente. Assim é mais fácil, sem decisões a tomar, como agir, o que dizer. Pega no resto das coisas e sai, fechando a porta atrás de si, sem fazer barulho. O sol forte faz-lhe arder os olhos. Ajeita os óculos e segue rua abaixo.

Os olhos de Khatmandu

Trindade, Kathmandu, bem podiam ser o mesmo - Rua do Alecrim ao Evereste. Não precisei de patrocínios nem perdi o nariz, mas fui à revelia e com surpresa em mente. Passei o resto da noite a levar nas orelhas, mas nada substitui, o alcance de uma meta interior, a surpresa estampada de uma visão surreal, a alegria contagiante de um amigo surpreendido...ou 2, mas principalmente, o superar de uma prova. Muito trabalho ainda pela frente, mas coxeio devagar para lá. Não dancei, mas vi dançar e os ferreros a passar. Assisti a mais um excelente trabalho de interpretação – de ti, não podia esperar outra coisa e nem sequer estavas lambidinho, mas as calças até ao sovaco, estavam a matar – estive com amigos, com conhecidos, com desconhecidos. Agora então, parece que não tenho como escapar, em ser um centro de atenções...as canadianas denunciam-me – maldito jogo de futebol!

Provei um pouco, o suficiente para molhar os lábios, de algo a que estava habituada, do que voltarei, qualquer dia, a beber, com as minhas habituais companhias e outras novas, porque não. Até lá...os testes continuam.

Wednesday, November 01, 2006

CURIOSIDADES

Numa manhã ou tarde de sol, num final de Setembro quente, andava a passear por um jardim em Barcelona, durante uma estafante semana de all-you-can-visit, quando a vontade de posar para as fotos deixou de ser levada a séria e completamente vencida pelo esgotamento de energias, um calhau pareceu-me uma excelente desculpa para repousar.

Essa ideia ficou para sempre, relembrada em provas fotográficas.

Tal não foi o meu espanto quando, passados 8 anos, numa lojeca de recuerdos em Salamanca, encontro uma ranita - um dos símbolos da cidade - posando num calhau. Não podia deixar de adquirir essa peça, testemunho das coincidências da vida, que tanto me divertem.

Não sou verde nem esbugalhada... mas mesmo assim, não deixa de ter piada.