Sunday, February 19, 2006


A chuva cai intensa e persistente. A sala pouco cheia, respira o silêncio. Apenas um violoncelo faz o número de abertura, arrancando sons repetidos e pouco melodiosos. A ideia reverberiza na minha mente – será demasiado experimentalista para mim? Aos poucos os sons vão tomando conta e o cansaço da semana acumulada começam a surtir efeito. Desisto e fecho os olhos. À medida que esvazio a cabeça de pensamentos, a imagem torna-se mais nítida. Já vi isto acontecer antes! As ideias entram em ebulição. O som ritmado e repetitivo, resgatado peculiarmente, ao violoncelo transforma-se num sistemático movimento de limpa pára-brisas, ritmando a espera ansiosa e intrigante de quem observa e aguarda. È perfeito para uma cena de suspense de um filme. À medida que os sons se tornam mais fortes, a atenção passa para lá do vidro e da chuva que por ele escorre, por entre o movimento das escovas e a cortina de água deixa adivinhar o culminar do gradual aumento do ritmo e vibrações que passam agora a ilustrar o barulho ensurdecedor do cravar de estacas. Perfeito. Uma verdadeira e surpreendente viagem sonora, da qual participei por motivos aleatórios que me levaram àquele espaço, naquela noite de chuva.

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