Em pleno Domingo escaldante, em peregrinação a Meca, no meio de saltos altos que agonizam, gravatas que sufocam e indumentárias dignas de uma gala, que moldam e toldam o comportamento, inicio a campanha para as fotos de promoção do novo filme de James Bond, com direito bondgirls, na passadeira vermelha. A censura ao ajeito do decote, quando os restantes se benzem, o sermão cómicamente improvisado, a homenagem imperceptível, atabalhoadamente salteada e intercalada com murmúrios – “as palavras custam-lhe a sair” e o Cigalla repousa no banco, aguardando o momento em que vai chover sobre os noivos. Dou por mim, sob um sol abrasador, que derrete os miolos, a explicar o significado da tradição de jogar arroz sobre o casal – logo eu que não sigo tradições por seguir, percebo que entre as pétalas e o arroz, até à minha divina intervenção sapiente, a ideia era a de uma simples praxe. Questiono-me sobre o peso do papel do fotógrafo no espectáculo-casamento: Perturba-me que os timmings sejam controlados por esta figura, que acaba por se revelar, não um simples director de fotografia, mas um realizador do próprio filme – agora, todos façam o favor de ir para a escadaria para a foto de conjunto! – ao que eu comento, sim, vamos para a grande escadaria de dois degraus, pode ser que caiba toda a gente. Já o Cameraman, apesar de ser incomodamente stalker, acabava por ser mais discreto. Brindados toda a tarde, pela fabulosa banda Ficha Tripla, cujos trocadilhos com o nome, pareciam-me intermináveis – sim, eram 3 – e cujo momento alto, foi bem alto ao microfone “já vamos testar essas gargantas, enquanto afino aqui o meu instrumento”. Até o garçon, senhor grisalho e respeitoso, não pôde deixar de se contagiar pela boa disposição na mesa. Alguns tintos mais tarde e um branco que fez sentir o efeito, até ali não sentido e acumulado dos anteriores, sigo em peregrinação ao café. Bendito fosse, não viesse ele, acompanhado pelo Beirão, que daí à sessão de fotos de promoção Bond, com direito a assistente de produção, não ouve como escapar, pois não, James? Alguns Beirões mais tarde, continuamos a apanhar banhos de sol, de final de tarde, descalços com os pés na erva fresca, a torturar os noivos com falsas prendas que apontam dicas enigmáticas e preocupantes sobre a prendas mistério.
A entrada triunfal do bolo, ao som da epopeia banda sonora de 1492, às escuras e à luz de archotes, faz-me pensar se de dentro do bolo não estivesse para sair uma figura guterrista. Pela noite fora, Karaoke à parte, a Ficha Tripla viu-se mesmo obrigada a correr com os artistas de ocasião que lhe estavam a ganhar o gosto, não antes sem conseguirem prevenir uma desafinada actuação de 5 doces com um final gritante e prolongado, digno de Axel Rose. São as cenas de um casamento, cujas memórias vão ficar, é a imagem dos centros de mesa só com caules de flores, depois do passar o vendaval que decorou o carro dos noivos, é o não encomendar fotos por não conseguir fixar um único número, é a esperança de o "amanhã de manhã" não ter ficado gravado em vídeo, é o desejo de uma vida recheada de muita felicidade e alegria, que sei que os noivos irão ter.
ERA UMA VEZ - the twilight stories
11 years ago
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