Naquele final de tarde, ela descia a rua ensombrada pela nítida sensação de que poderia se cruzar com alguém familiar. Haviam grandes hipóteses de tal acontecer, mas à medida que se ia afastando do ponto de origem e ia entrando na grande praça, as hipóteses de tal encontro se darem, iam-se tornando reduzidas. Ao atravessar, o som da buzinadela decidida e provocatória fê-la pensar que, mais uma vez , a sua percepção não a tinha deixado ficar mal. Ao olhar para trás, não reconheceu o carro e lançou um olhar de desprezo ao condutor.
De repente, teve uma paragem. Afinal reconhecia aquele indivíduo que entretanto parara o carro e sorria, imbecilmente, pela janela. Olá! Tás boa? ...Olá ! respondeu ela, hesitante, falhando-se a voz, à medida que já pensava numa maneira de encurtar o encontro. Como não iria cair muito bem, se não parasse, pelo menos para um cumprimento breve, voltou atrás, sem grandes certezas da direcção a tomar. Só lhe ocorriam todos aqueles momentos chatos e enfadonhos com os quais tinha conseguido cortar radicalmente há anos. No entanto, deu o beneficio da dúvida, mas ao fim de duas frases trocadas percebeu que os anos, afinal, não tinham ajudado. Finalizando por ali o encontro, afastou-se com a certeza de que podia continuar a confiar na sua intuição e que não vale a pena questionar os julgamentos que fazemos das pessoas com as quais não conseguimos conviver .
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