Sunday, April 09, 2006

Pieces of April


Apresso-me para o metro, desvio-me de caras desconhecidas. Desligo-me daquela viagem até sentir o perfume agradavelmente subtil a meu lado. Se a escolha de um perfume reflecte a personalidade de quem o usa, olho com curiosidade e solto um sorriso – não é aplicável quando se trabalha numa loja de cosmética.
Sexta feira, bilheteiras a abarrotar – centro de convívio da “crème de la crème”. Sinto-me uma intrusa no meio das extensões louras e da base laranja. Falta-me os tiques, as gargalhadas forçadas e estrondosas, da teatralidade com que joga as mechas para trás, desviando-as das lentes de contacto azuis. Forço-me a lembrar o motivo que em levou ali – as coisas que fazemos pelos amigos! – e mergulho de novo nos meus pensamentos, enquanto ignoro a visão em triplicado.

De volta a casa, enquanto espero, observo as situações de um início de madrugada em Lisboa. Os taxistas falam alto e esbracejam animadamente. Passa-me pela cabeça que possa já haver demasiada animação para quem faz da condução uma profissão. Um indivíduo vomita os excessos de um final de semana, no banco da paragem, afastando todos com repulsa. Os passos apressados para o comboio fazem deixar cair um casaco, do qual saltam algumas moedas, que rolam até aos meus pés, quietos na beira do lancil. Olho para as moedas insignificantes, nem por um momento me passa pela cabeça apanhá-las e imagino que riqueza trará a quem as apanhar. Finalmente chega o autocarro. Dele sai uma senhora bem posta - como se costuma dizer - que anda ritmadamente devagar, com os olhos postos no chão, talvez absorta nos pensamentos da sua vida. Num movimento certeiro baixa-se e apanha algo de penso ser uma moeda – olha que belo presente a espera aos meus pés! – ao passar por mim, nenhuma das 3 moedas lhe escapam ao olhar treinado. Sorrio com desdém trocista – mais umas moedas e talvez dê para um café - obviamente não necessita de caridade, apenas não deixa escapar uma oportumidade. De volta a casa, penso no que vou escrever enquanto me abstraio do alvoroço das inglesas, com bilhete para um DJ, que se enojam com a visão do indivíduo que continua a expelir os excessos de uma noite de sexta em Lisboa.

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