Muito tempo - Frango Farrapos de tecido envelhecido, presos ao arame farpado ferrugento que veda o acesso à propriedade, são sacudidos freneticamente pelo vento insistente. Mais nenhum movimento se faz sentir. O tempo parece paralisado, preso numa bolha. O frio gélido penetra a roupa e fustiga o corpo, trespassando a carne até aos ossos. Sem sinal de vida por quilómetros, a sensação de vazio e abandono invade o mais fundo dos sentidos.
A erva seca e amarelada teima em persistir naquele terreno cujos cuidados, há muito foram esquecidos. O velho pneu, ainda pendurado num ramo baixo de árvore, balança levemente na ponta da corda desgastada, como o enforcado que servindo de exemplo, permanece em exposição.
Em torno da casa de madeira, apenas alguns brinquedos esquecidos e gastos pelo sol, denunciam esta ter sido habitada. Cortinas velhas e esfarrapadas ondulam fora das janelas quebradas, cujos vidros enegrecidos pelo pó ocultam os seus mais íntimos segredos.Completamente absorvido por esta visão, como que num estado hipnótico, do qual não consigo me libertar, é impossível deixar de reflectir, de procurar uma explicação. O desconhecimento é rapidamente engolido por um desconcertante sentimento de angústia. Que terríveis acontecimentos terão tido lugar para tal cenário de abandono. O arrepio impulsivo eriça os cabelos na base da nuca, tornando impossível ignorar a percepção de uma tragédia.