Lisboa, Sábado à noite, à porta de um qualquer espaço de concertos, uma multidão inexistente não se acotevela para entrar. Apenas 7 pessoas teimam ao frio da noite, esperando que a porta abra. Uma pisada acidental numa desconhecida, impele a adolescente ainda não alcolizada, de pedir sistemáticas desculpas. O sobrolho franzido e o beicinho de dor simulado desvanecem-se para um espontâneo e inesperado “está bem” que causa a gargalhada entre os desconhecidos. Originando a consequente agressão ao jovem engraçadinho que teimou em gozar com a menina, repetindo a piada.
No interior, as poucas mesas ao canto da sala, davam os único sinais de lotação. A conversa fluiu ao ritmo da música, enquanto aguardando a subida ao palco de uma banda cujo trabalho era praticamente desconhecido. 2 horas de espera, longas e desesperantes, não fosse a óptima companhia e sempre existente tema de conversa. O sucesso de uma saída é garantido pela qualidade da companhia – sempre o disse e continuo a defender.
A conversa não dá sinais de desgaste arrastando-se por mais um par de horas.
Uma noite excelente, para a qual, pouco contribuiu o programa original, como aliás, tem sido uma constante. O programa cultural tem passado rapidamente para segundo plano e o convívio torna-se o tema central do encontro. São assim as minhas saídas, independentemente da companhia. Sinal de que me rodeio de pessoas fantásticas com quem adoro estar e como, gritava o músico para a assistência “O chão é vosso!”
Friday, January 13, 2006
Todos as usamos uma ou outra vez: para ocultar, para esconder, para fingir, para enganar, para divertir, para seduzir, para ser diferente,... Ocasionalmente ou intensamente, muitos são os fazem delas a sua pele até ao ponto de deixarem de conseguir distinguir a diferença entre o “eu” e a personagem. Não conheço ninguém que aprove o seu uso, ninguém que goste de se relacionar com uma máscara, com um falso “eu”. No entanto, tenho aprendido que no fundo, também temem a verdade, temem ser verdadeiras, de se exporem tal como são. Tenho tentado ser fiel ao que penso e ao que sinto, mas deparo-me muitas vezes com desconforto e incómodo da outra parte, em relação à verdade que tento seguir sem a impôr. Assisto a julgamentos errados sobre as minhas acções, sobre as minhas palavras, sobre a minha relação com o mundo, combato as tentativas de rotulagem, de estabelecerem limites aceitáveis para o que sinto. Não preciso de analisar para sentir. Sinto simplesmente, como existo sem ter que definir os "comos" e os “porquês” dessa existência.
É libertador viver sem rede, sem protecção de uma máscara... mas protecção de quê, afinal? De nos verem tal como somos? Que consequências desastrosas acarreta, afinal, para haver tanto receio?
Se por um lado é claro, sentir sem ter que definir ou escrutinar o sentimento, acabo por ter cuidado ao lidar com os outros, com quem não consegue viver sem rótulos, com quem se sente incomodado por se mostrar como é ou como sou. Não me consigo libertar e tento, aos poucos, vencer essas barreiras. As máscaras que tento não usar com quem não faz sentido me esconder, quem conhece o meu “eu” com as minhas muitas facetas, quando me adapto às situações, quando me transformo sem me perder.
É assim espectáculo real da vida e os papeis que interpretamos nos diversos actos da nossa existência.