Sunday, April 30, 2006


O calor desperta na cidade. A Sexta trás a promessa de um fim de semana longo e recheado. Desço a Rua Augusta, olho para a direita, em mais um edifício camuflado por andaimes, dois pares de perninhas pendem de igual modo. A semelhança vai até ao pormenor do pezinho traçado. A primeira imagem que se forma é a de uma publicidade, daquelas que, como poucas, toma partido do espaço físico onde se projecta. Não, não é uma publicidade ou instalação. Para minha desilusão, vejo o vulto do resto dos corpos. São mesmo dois trolhas sentados a trabalhar. É pena! comento entre risos. concordamos que teria sido uma boa ideia

Divagando pela Cidade


Sunday, April 23, 2006

Despida por solteiros(?!)

Sábado à noite, corro para o jantar de despedida de solteira, passo apressada pelo recém inaugurado Casino, que se adivinha um forte concorrente à peregrinação nocturna, de fim de semana, ao Vasco da Gama.

Sou a primeira a chegar em noite de grande jogo do Dragão.
No final de uma intensa luta com a picanha, munida apenas de uma faca de gume cego, regada por alguma sangria e caipirinha, o chefe de mesa, parece, por unanimidade, uma cópia exacta do tipo do Aquário de Vancouver, série juvenil, trancada nas nossas memórias de infância. Com a noite ainda no início, acabamos por dar uma volta na capital do jogo, antes de abanar a bunda ao ritmo do axê.


O Staff usa uma farda muito gay, demasiado pink.

O stripper acaba por perder a cabeça... É caso para dizer "Muita Parra e pouca uva".





Ainda apanhamos, ao jeito de Kaiser Chiefs, o equilíbrio de muitas bolas em maillot,no centro do bar que ajuda a perpectuar o efeito do alcool (tal qual stripper a sair do bolo).

Entre Slot Machines da Playboy e de séries clássicas da TV americana, desconhecidas em Portugal, nem o Kenny Rogers faltou - o cowboy cantor, aparentemente, com um problema de jogo.

Muitas luzes, muitas cabeças. Cenários moldados pela luz de led, montando ambientes de desgaste rápido e hipnotisante...demasiado cheios para surtir efeito.

Aula de axê pela noite dentro e conversa até de madrugada.
O grande dia está a chegar...

Blue Room, Red Light














Friday, April 21, 2006


Naquele final de tarde, ela descia a rua ensombrada pela nítida sensação de que poderia se cruzar com alguém familiar. Haviam grandes hipóteses de tal acontecer, mas à medida que se ia afastando do ponto de origem e ia entrando na grande praça, as hipóteses de tal encontro se darem, iam-se tornando reduzidas. Ao atravessar, o som da buzinadela decidida e provocatória fê-la pensar que, mais uma vez , a sua percepção não a tinha deixado ficar mal. Ao olhar para trás, não reconheceu o carro e lançou um olhar de desprezo ao condutor.
De repente, teve uma paragem. Afinal reconhecia aquele indivíduo que entretanto parara o carro e sorria, imbecilmente, pela janela. Olá! Tás boa? ...Olá ! respondeu ela, hesitante, falhando-se a voz, à medida que já pensava numa maneira de encurtar o encontro. Como não iria cair muito bem, se não parasse, pelo menos para um cumprimento breve, voltou atrás, sem grandes certezas da direcção a tomar. Só lhe ocorriam todos aqueles momentos chatos e enfadonhos com os quais tinha conseguido cortar radicalmente há anos. No entanto, deu o beneficio da dúvida, mas ao fim de duas frases trocadas percebeu que os anos, afinal, não tinham ajudado. Finalizando por ali o encontro, afastou-se com a certeza de que podia continuar a confiar na sua intuição e que não vale a pena questionar os julgamentos que fazemos das pessoas com as quais não conseguimos conviver .

Monday, April 17, 2006

You bring me closer to God - Nine Inch Nails


Passeio pela praia, no final de tarde, olho para o lixo trazido pelo mar. Questiono-me sobre a origem de alguns detritos. Fotografo aqueles que me parecem mais deslocados e por isso, apelam mais à minha atenção. Aproximo-me de um galho cravado na areia quase, escultoricamente, colocado. Em fim de semana de Páscoa, olho para a areia e sorrio. Uma peça cinzenta sobressai – um cristo abandonado, perdido na praia. De entre todos os detritos foi sem dúvida, o mais curioso. Não resisto. Registo o momento. Continuo à beira mar, confirmando as minhas suspeitas. Encontro as tão familiares rosas já envelhecidas, pelos dias de sol e sal, que indiciam práticas mais místicas. Para além destas, encontro ainda flores frescas – esta noite foi movimentada. Ficaram a faltar os charutos, a cachaça e as outras oferendas que costumo encontrar pela praia. No crepúsculo imagino ter encontrado chifres de caprino cobertas por larvas e moscas, uma verdadeira cena fétida e putrefacta que se desfaz, ao constatar que estou apenas perante bananas enegrecidas, simetricamente dispostas, cobertas de mel e vespas. Não preciso percorrer as encruzilhadas, nem passar à porta de cemitérios. O misticismo continua bem vivo e a ser praticado. E eu, em nome do ambiente, continuo a apagar velas deixadas acesas sob a vegetação e a recolher lixo deixado na praia. Quer sejam garrafas, copos ou anjos caídos, ignoro os avisos para deixar os despachos em paz.

Sunday, April 09, 2006

Pieces of April


Apresso-me para o metro, desvio-me de caras desconhecidas. Desligo-me daquela viagem até sentir o perfume agradavelmente subtil a meu lado. Se a escolha de um perfume reflecte a personalidade de quem o usa, olho com curiosidade e solto um sorriso – não é aplicável quando se trabalha numa loja de cosmética.
Sexta feira, bilheteiras a abarrotar – centro de convívio da “crème de la crème”. Sinto-me uma intrusa no meio das extensões louras e da base laranja. Falta-me os tiques, as gargalhadas forçadas e estrondosas, da teatralidade com que joga as mechas para trás, desviando-as das lentes de contacto azuis. Forço-me a lembrar o motivo que em levou ali – as coisas que fazemos pelos amigos! – e mergulho de novo nos meus pensamentos, enquanto ignoro a visão em triplicado.

De volta a casa, enquanto espero, observo as situações de um início de madrugada em Lisboa. Os taxistas falam alto e esbracejam animadamente. Passa-me pela cabeça que possa já haver demasiada animação para quem faz da condução uma profissão. Um indivíduo vomita os excessos de um final de semana, no banco da paragem, afastando todos com repulsa. Os passos apressados para o comboio fazem deixar cair um casaco, do qual saltam algumas moedas, que rolam até aos meus pés, quietos na beira do lancil. Olho para as moedas insignificantes, nem por um momento me passa pela cabeça apanhá-las e imagino que riqueza trará a quem as apanhar. Finalmente chega o autocarro. Dele sai uma senhora bem posta - como se costuma dizer - que anda ritmadamente devagar, com os olhos postos no chão, talvez absorta nos pensamentos da sua vida. Num movimento certeiro baixa-se e apanha algo de penso ser uma moeda – olha que belo presente a espera aos meus pés! – ao passar por mim, nenhuma das 3 moedas lhe escapam ao olhar treinado. Sorrio com desdém trocista – mais umas moedas e talvez dê para um café - obviamente não necessita de caridade, apenas não deixa escapar uma oportumidade. De volta a casa, penso no que vou escrever enquanto me abstraio do alvoroço das inglesas, com bilhete para um DJ, que se enojam com a visão do indivíduo que continua a expelir os excessos de uma noite de sexta em Lisboa.
Dear Sir Unseen, I know my music and I am willing to bet you ten times whatever pathetic price you paid to get in this place that the dog's tail is 'waggely.'
Now I want to hear you bark.

svelte gamine