Tuesday, February 20, 2007

I'm not a people person


Por extrema necessidade, desço aos confins do inferno, cheio de guichets repletos de gente, que quase se comem para passar à frente.
O ar insalubre do piso -1 e as cores empasteladas de um cinza-acastanhado enevoam-me o dia, já de si cinzento e chuvoso.
Preencho os impressos e aguardo a minha vez. A confusão é geral.
A xinhora ládexima, pouco habituada a lidar com o mundo, aflige-se por não saber o que é “letra legível” nem “preenchimento uma letra por quadrado”.
A consultora de ocasião, que adora ouvir-se falar na sua voz estridente, teima em dar informações, mesmo quando não solicitadas. Para meu azar, está sentada a meu lado.
A xinhora continua a tentar que alguém, numa atitude condescendente (e falsa) lhe diga que não faz mal ter preenchido os impressos erradamente, que não vai ter que pagar mais 7,05€, nem voltar a tirar senha e tentar de novo a sorte com o preenchimento.
Tento, em vão, desligar-me mas o som do mp3 não dá mais alto.
A consultora reúne já, uma verdadeira legião de seguidoras que a ouvem atentamente, esclarecendo dúvidas junto do o seu oráculo especializado. Vão permanecendo à minha volta, demasiado perto para o meu gosto. Começo a fazer uma lista de coisas a tratar, para não me esquecer e estranho o silêncio. Olho para cima e a consultora e suas 2 seguidoras – que entretanto me encurralaram – olham atentamente, tentando deslindar os gatafunhos abreviados da minha lista.
A contagem decrescente continua número a número pela esganiçada voz da minha vizinha do lado.
Uma das seguidoras fala qualquer coisa que não oiço. Depois comenta “bem...vou mas é ouvir música”. O facto de se inclinar ligeiramente para o meu lado ao fazê-lo e em voz alta, leva-me a crer que devia ser uma resposta ao facto de eu estar de phones.
Finalmente a minha vez. Levanto-me rápido e aliviada por sair dali.

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