É estranho constatar, junto com as restantes 15 pessoas da plateia, o impacto que tem uma sala quase vazia, nos intervenientes do espectáculo.
Conversa, praticamente pessoal, no final do espectáculo, a culpa é do sistema.
Apesar do cansaço, da falta de sono, da extensão propagada por 3 horas, é sempre divertido assistir a um Hamlet.
O sarcasmo, a causticidade, vestidas de peles, estolas, napa e botas da tropa.
A duvidosa orientação, que vai bem mais longe que o misógeno:
"Leviandade, teu nome é mulher."
"Foi curto. Tal como o amor das mulheres." (será mesmo?)
"(...) que indigna criatura acreditas que eu seja? Tocar-me-ias como um instrumento; Tentarias aparentar conhecer os meus buracos; Arrancar-me-ias os meus mais íntimos mistérios; Pretendes tocar-me, desde a nota mais grave até a mais aguda de meu compasso; E há muita música, excelente voz, neste pequeno órgão. No entanto, não o consegues fazê-lo falar. Pelo sangue de Deus! Pensas que eu seja mais fácil ser tocado que uma flauta? Toma-me pelo instrumento que quiseres mas por muito que me dedilhes, posso garantir-te que não conseguirás tocar-me(...)"*Acto III, Cena IICheira-me a bem mais podridão no reino da Dinamarca, do que o simples chauvinismo, principalmente, se tivermos em conta que já lá vão uns 500 anos.
E vê-la retratada, é muito mais esclarecedora.
Foi catita, sim senhora.
E quantas vezes, podemos dizer, que ao assistirmos a um espectáculo,
a mente divaga numa viagem odorífera para as memórias de infãncia,
de tardes enfiada na casa atafulhada e bafienta das duas vizinhas velhotas,
a tomar chá e bolachas entre cortinas de veludo azeitona ?
(Freaks me out)
Mas sempre divertido.
"...o Terramoto..uma merda ! O outro...execrável! "
E os Malucos do Riso? - questiono, eu
Sabem sempre bem, as últimas conversas, mesmo antes de dispersar.
E o café, para bem breve, por favor!
(E espero que o Rosencrantz me perdoe, pelas impulsivas referências torcistas ao seu personagem)
Ide,
Hamlet por vós espera
No Trindade até ao final do mês
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* Acto III, Cena II "Why, look you now, how unworthy a thing you make of me! You would play upon me; you would seem to know my stops; you would pluck out the heart of my mystery; you would sound me from my lowest note to the top of my compass:and there is much music, excellent voice, in this little organ; yet cannot you make it speak. 'Sblood, do you think I am easier to be played on than a pipe? Call me what instrument you will, though you can fret me, yet you cannot play upon me."