Wednesday, June 13, 2007

CONTRA/SENSO

Há dias em que não me apetece escrever sobre a noite da sangria, a barafunda que é a invasão de Lisboa na trilionésima tentativa de assalto ao castelo.
No início era a ginja, ainda de dia, a descomprimir o bom comportamento de um dia de reuniões.
A volta da praxe pela Bica, o reconhecimento de possíveis locais onde assentar arraiais, com um grupo emprestado.
Voltas e mais voltas sem destino certo, cumpre-se a profecia – por estranhas e imprevistas forças, desço ao submundo dos pitbulls, com vista sobre o rio.
Grito, em vão, o nome de conhecidos que se deixam diluir na multidão.
Mouraria, beco em festa entre kizomba e brasileiras, fujo do fumo dos assados para sorrir perante os turistas que, em peregrinação, páram diante do altar que é o assador, de modo a imortalizarem o momento da viragem da sardinha.
Deixo-me levar pela massa humana, lentamente colina acima, como parte de um magma que contraria o efeito gravítico. Sigo religiosamente o António, lá alto, preso por um cordel, único marco reconhecível e visível de um grupo que acabei de conhecer.
Abandono o congestionamento, tento fazê-lo, vejo a bestialidade das pessoas na luta pela “sobrevivência” – o civismo é inversamente proporcional à quantidade de pessoas.
Ficam os grupos desistentes, os grupos desconhecidos, os grupos por encontrar, impossíveis de contactar numa noite em que a rede simplesmente desaparece.
Volto para casa, empacotada numa lata, com o cheiro a sardinha a estagnar o odor.

Há dias em que não me apetece escrever sobre a noite...
por isso não escrevo sobre ela.

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