Monday, December 05, 2005

Jinga Beulas

Não há dúvida, não há como escapar, ele está aí e veio para ficar .
Hoje, de manhã, para o trabalho, no meio de bocejos e ramelas, heis que oiço
as tão temidas notas desafinadas.
Duas lindas crianças de 5 anos cantavam, no mais desafinado tom concebível,
aquela bela canção de Natal.
Há quem saiba, da irracional (ou talvez nem tanta) aversão que tenho a uns
certos eléctricos natalícios, que passam histéricos, por estas alturas,
pelas ruas de Lisboa...cheios de crianças, um condutor muito mal mascarado
de pai natal e uma música estridente, a ser bombardeada para a rua. Se as
crianças não vão excitadas para a viagem, dificilmente não a acabam nesse
estado.
È inexplicável, mas tal como a aversão a palhaços - profissionais ou
amadores - acontece. As roupas, os maneirismos e mais preocupante, aquela
atracção por crianças – nunca o consegui ver com bons olhos e agora, menos
ainda .

Mas voltando ao motivo, pelo qual escrevo, a melodia - começo a ouvir os
primeiros acordes vocais a desafinar.

Há certas recordações que gosto de manter bem enterradas no fundo da minha
memória, recordações tão deprimentes como os domingos escuros de chuva, com
o Engº Sousa Veloso a interromper os desenhos animados matinais, os
programas do Júlio Isidro que se estendiam pela tarde ou o Vasco Granja a
tentar dar uma ensaboadela cultural sobre paradoxo marxista, ao serviço do
grafismo leninista dos irmãos karpov. Também o Coro de Santo Amaro de Oeiras
não me trás recordações animadoras, e hoje de manhã, era só o que pensava,
ao som daquelas vozinhas angelicais e atrapalhadas, cuja inocência
transmitida, em nada correspondia às caras de peste dos seus donos.

“olhei para o céu e vi um ovo estrelado” sempre me pareceu mais divertido
fazer uma alusão a Objectos Voadores Não Identificados...

mas os dons interpretativos eram inegáveis. Penso que poderão vir a ter
futuro na cena musical...na onda dos filmes da série “Scary Movie” que
parodeiam os filmes originais...

...”vi o Deus-menino deitado, deitado” - não seria “nas palhas deitado”? ou
será um ênfase especial estar mesmo deitado-deitado? Também pode ser a minha
memória a trair-me.

...”filho de uma RODA, de um CABO nascido”
se soubessem o que eu, intimamente, agradeci por ter sido brindada com tal
pérola literária...

já nem me importei da constante repetição da música lenga-lenga
e confesso, que não melhorava com a prática ...nem a melodia, nem a afinação
e muito menos a letra :
...”filho de uma RODA, de um CRABO nascido” saiu à segunda.
seria caranguejo inglês que já morava cá há algum tempo? Ou um Cravo do
Norte?

Qualquer que fosse a ideia, estava lindo. Tenho pena de não poderem ter
ouvido em primeira mão, logo pela manhã, entre olhos inchados, bocejos
impulsivos e sorrisos forçados.

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